Pela Dr.ª BOURREL BOUTTAZ
Ponto 1 : a cortisona natural
A cortisona é produzida pelo nosso corpo, sob o nome de cortisol, funcionando como combustível para “arrancarmos” às 8 da manhã, e continuando a ser produzida ao longo do dia, com um pequeno descanso por volta das 3 da manhã. Esta hormona intervém no metabolismo do açúcar, das gorduras, do sono, da imunidade. Trata-se de uma resposta ao stress crônico (o dia a dia), enquanto a adrenalina é uma resposta ao stress agudo (ao vermos um camião que vem na nossa direção).
Possui benefícios anti-inflamatórios importantes, e por isso é utilizada sob a forma de medicamentos. Está disponível em comprimidos, injeção ou creme e pomada.
Os efeitos secundários perigosos da cortisona verificam-se apenas quando ela é tomada por via oral ou injetável: aumento de peso, hipertensão arterial, diabetes, osteoporose, fratura óssea…
Nada disto ocorre quando é aplicada de forma local, porque…
Ponto 2 : é destruída pela inflamação
creme cortisona reduz inflamação eczema atópico
Se a cortisona é aplicada sobre uma pele normal, atravessa a pele e pode ser encontrada no sangue. No entanto, se é aplicada sobre uma pele inflamada, é imediatamente destruída pela inflamação e quase nada passa para o sangue – demasiado pouco, de qualquer forma, para causar efeitos tóxicos.
Então, porque é aconselhado continuar as aplicações duas vezes por semana nas zonas onde habitualmente aparecem as placas (dobras dos cotovelos, dobras dos joelhos)? Por duas razões:
Se pudéssemos analisar a pele ao microscópio, veríamos sempre uma inflamação pronta a reativar-se.
Aplicar cortisona duas vezes por semana nas zonas de onde desapareceram as placas permite evitar as recaídas, sendo a quantidade total de cortisona aplicada durante um ano, no final de contas, bem menos elevada do que se não o fizéssemos.
Ponto 3: porque é que tem tão má reputação?
Não cura:
Para controlar um eczema, não basta hidratar e tratar com cortisona.
É preciso também identificar os factores que o causaram e tentar preveni-los.
Da mesma forma, é necessário tratar a flora digestiva com probióticos e através de um regime alimentar antiácido e anti-inflamatório.
Impede a eliminação:
Uma frase que ouvimos muito: “é preciso deixar sair, senão as toxinas ficam no interior e é perigoso”. Foi Hipócrates quem descobriu a função emunctória da pele, há 2500 anos…
As toxinas são efetivamente eliminadas pela pele, através do suor e do sebo. Mas a cortisona em creme não altera o funcionamento das glândulas sudoríferas e sebáceas. Ou seja, com ou sem cortisona, as toxinas são eliminadas normalmente.
Ponto 4: mas de certeza que existe outra solução?
A dermatite atópica é uma doença crônica, o que é difícil de perceber, tanto para os pais como para o paciente. A cada nova crise, é preciso voltar à lista de verificação: qual é o fator desencadeador, podemos preveni-lo, é preciso voltar a tratar a flora digestiva?
Alguns obterão bons resultados com outros medicamentos, mas independentemente da sua escolha, a base da abordagem é incontornável:
a pele está seca: para não agravar a secura, hidratar todos os dias;
é preciso saber ouvir o corpo, perceber como é que a pele reage;
não serve de nada sofrer, cuide de si;
se o stress for um elemento determinante, opte por um método que reduza a sua sensibilidade (sofrologia, hipnose…);
respeite a sua flora digestiva.
Ponto 5 : mas a verdadeira razão do medo da cortisona vem…
Dos próprios médicos. Os estudos mostram-no: as posições divergentes entre os profissionais de saúde alimentam a confusão dos pais. Os centros de referência do tratamento da dermatite atópica são os centros de educação terapêutica.
Noções implícitas na bula
1- Os fatores desencadeadores são:
Tudo o que agrava a secura da pele: o frio, a água, os sabões, todos os produtos químicos, os perfumes, o pó, a bricolage, os pólenes.
Tudo o que perturba o equilíbrio da pele: o suor, sob o efeito de uma alimentação demasiado ácida.
Tudo o que perturba a flora digestiva: uma alimentação muito ácida, os antibióticos, as gastroenterites…
O stress
2. A alimentação: dois tipos de alimentação que devem ser evitadas, pois agravam o eczema.
Alimentação acidificante: rebuçados, bolos, sodas, pão, massa, cereais de pequeno-almoço, barras energéticas, mel, tomate, citrinos (limão, tangerina, laranja, toranja)
Alimentação inflamatória: todas as refeições industriais, todos os óleos que não são de primeira pressão a frio, excesso de produtos à base de leite de vaca, charcutaria, excesso de carne vermelha.